Medicina baseada em evidências: o que todo paciente deveria saber

Durante muito tempo, a medicina foi baseada em experiências individuais, e na crença de que se um determinado remédio ou comportamento fazia bem para um, já seria o suficiente indicar para o outro.

Mas, hoje em dia, a boa prática da medicina requer um embasamento científico, isto é o que chamamos de medicina baseada em evidências. Ela é definida como o elo entre a boa pesquisa científica e a sua aplicação na prática clínica.

Para um medicamento ser indicado para uma doença, ele precisa ter sido estudado profundamente. É avaliada a efetividade, a eficácia e a segurança do remédio. Além disso, a decisão clínica, não é baseada em um estudo apenas. Para vocês terem uma ideia, nas metanálises, que são consideradas nível I de evidência, é feito um cálculo estatístico aplicado aos estudos incluídos em uma revisão sistemática. Trocando em miúdos, é estudo, do estudo, do estudo!

Então, quando o paciente pergunta para o seu médico, se ele pode tomar um chá que curou as dores da sua vizinha, e o médico diz: “Veja bem, não há evidências de que esse chá melhore o seu problema”. Ele quer dizer que não foram feitos TODOS esses estudos explicados anteriormente para comprovar que o paciente pode tomar esse chá com a segurança, e com a certeza que ele terá efeito. Pode ser que ele cause efeitos colaterais, ou que só funcione para um determinado tipo de pessoa. Não dá para afirmar sem as pesquisas sérias.

Desse modo, é importante ter cuidado com os medicamentos milagrosos, chás curativos e vitaminas fortificantes, pois, na maioria das vezes, não há nenhum estudo comprovando a sua efetividade, e podem ainda, causar danos irreversíveis à saúde.

Decisão compartilhada

Quando vamos ao médico, nós levamos nossas queixas, o médico dá o diagnóstico e decide o nosso tratamento, certo? Parece não haver nada errado nisso. Mas o que faltou nessa consulta foi o que chamamos de decisão compartilhada. 

A decisão compartilhada é quando o médico e o paciente tomam juntos a decisão sobre os rumos dos cuidados da saúde do paciente. É acima de tudo, uma conversa franca, em que são explicados pelo médico os riscos/benefícios, as opções de tratamento, as possibilidades de melhora e piora, tudo com embasamento científico. E do outro lado, o paciente expõe sua situação de vida, incluindo questões financeiras, familiares, de trabalho, lazer, ou qualquer que seja o assunto que tenha impacto na saúde.

Porém, a decisão compartilhada muitas vezes não encontra o ambiente ideal no consultório. Quer seja, pelo tempo escasso da consulta que impede que ambas as partes não consigam expor as informações relevantes, quer seja pela falta de habilidade do médico em conseguir adequar o tratamento ao contexto de vida e preferências do paciente. Mas, isso não impede que a decisão compartilhada seja perseguida como um caminho para trazer maior individualização e qualidade para o tratamento dos pacientes. 

Algumas dicas ajudam a criar uma oportunidade de decisão compartilhada na consulta:

  • Antes de se submeter a um procedimento invasivo, pergunte ao médico “o que aconteceria se não fizesse nada?”. Não que você vá certamente escolher não fazer nada, mas é preciso saber as consequências, para ter melhores condições de fazer sua escolha.
  • Se você não tiver condição financeira de comprar um medicamento, pergunte se há uma opção mais barata ou que seja oferecida pelo SUS. Questione ainda, se a troca vai causar algum prejuízo no tratamento.
  • Esteja sempre informado, mas não recorra ao “Dr. Google” de forma desorientada. A internet está repleta de “fake news” e informações, que, muitas vezes, não tem nenhum embasamento científico.
  • O caso do paciente reumatológico que vai ser submetido ao tratamento com biológico tem várias particularidades. A escolha do biológico vai além das questões clínicas da enfermidade. Ela envolve farmacoeconomia, disponibilidade no SUS ou liberação pelos convênios, já que são medicamentos de alto custo e tem sua disponibilização controlada. Existe no mercado uma ampla variedade de opções. É claro, que o reumatologista é pessoa mais qualificada para orientar o medicamento de escolha. Mas se houver opção, você pode avaliar qual se encaixa melhor no seu perfil. Existem medicamentos subcutâneos, intravenosos e até mesmo via oral, em alguns casos. Alguns medicamentos são de aplicação semanal, outros quinzenais, mensais e até a cada 8 semanas. Alguns podem ser administrados em casa com treinamento, outros exigem necessariamente que seja feito numa clínica de infusão. E novos medicamentos surgem a todo momento. 

Tenha em mente que decisão compartilhada, também é responsabilidade compartilhada. Esteja ciente dos riscos e benefícios de cada tratamento ou procedimento a ser submetido. Isso te trará mais segurança de que as decisões sobre a sua saúde são as melhores para você.

 

 

Hipotireoidismo e dores articulares

A tireoide é uma glândula localizada no pescoço muito importante por produzir hormônios fundamentais para o bom funcionamento do organismo. Todas as pessoas possuem tireoide, ou seja, “ter tireoide” é normal, o problema ocorre quando ela não está funcionando bem. Quando o funcionamento está diminuído, com baixa produção dos hormônios, ocorre o hipotireoidismo.

A prevalência do hipotireoidismo varia de 0,1 a 2% e é mais comum em mulheres. Os sintomas incluem fadiga, intolerância ao frio, ganho de peso, constipação, pele seca e irregularidades menstruais.

E quais as manifestações reumatológicas associadas ao hipotireoidismo?

  • Dores articulares com envolvimento de mãos, pés, punhos e joelhos. Reversível após a reposição do hormônio.
  • Mialgias
  • Fraqueza muscular, pode haver aumento da enzima muscular chamada CPK
  • Neuropatia sensoriomotora
  • Síndrome do túnel do carpo

É importante lembrar que na presença desses sintomas, o médico deverá ser consultado. Deve-se realizar a pesquisa de diagnósticos diferenciais, pois as manifestações reumatológicas associadas ao hipotireoidismo são frequentes também em várias outras doenças reumatológicas que precisam ser descartadas.

Miopatias autoimunes sistêmicas

As miopatias auto-imunes sistêmicas são um grupo de doenças inflamatórias, que tem como alvo principal, os músculos.

Elas podem ser subdividas em:

  • Dermatomiosite
  • Polimiosite
  • Miosite por corpúsculos de inclusão
  • Miopatia necrotizante imunomediada
  • Síndrome antissintetase
  • Miopatias associadas a outras doenças autoimunes

Os principais sintomas são fraqueza muscular e mialgia. Elas podem, ainda, apresentar junto ao quadro muscular, acometimento cutâneo, pulmonar, cardíaco e/ou do trato gastrointestinal.

Cisto sinovial

O cisto sinovial é notado como um estrutura arredondada, principalmente no dorso (“parte de cima”) da mão ou do punho. Forma-se um cisto, “uma bolha” do líquido da articulação (líquido sinovial).

Pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum entre 20 e 40 anos, e tem discreto predomínio em mulheres.

Ele pode surgir em qualquer articulação, mas o punho é o lugar mais comum. A causa ainda é desconhecida, mas é sugerido uma degeneração mucoide das estruturas periarticulares. O papel do movimento repetitivo ainda é incerto, mas pode induzir a piora da lesão.

Na maioria dos casos o cisto sinovial não causa nenhum sintoma, porém eventualmente pode provocar dor ou desconforto local.

Pode ser primário, ou seja, aparecer “do nada” ou ainda ser secundário a uma lesão ligamentar ou doença reumatológica.

Quando sintomático, indica-se repouso do local acometido e uso de anti-inflamatório não hormonal. Caso não tenha melhora, pode ser necessário aspiração do cisto, seguido de injeção de corticosteroide no local. Casos refratários são encaminhados para a cirurgia.

Síndrome de Behçet

O que é a síndrome de Behçet?

É um tipo de vasculite, ou seja, uma inflamação dos vasos sanguíneos espalhados pelo corpo todo.

Quais os principais sintomas?

Aftas na boca e úlceras genitais de repetição. Pode haver ainda dores e inchaços articulares, acometimento dos olhos com inflamação e obstruções dos vasos sanguíneos.

Como é feito o diagnóstico?

Infelizmente não existe ainda nenhum marcador específico que diagnostique o Behçet. Deve-se procurar um médico reumatologista que irá investigar os sintomas e sinais sugestivos. Ele pedirá alguns exames complementares para afastar outras doenças. Muitas vezes, o diagnóstico é difícil, pois as lesões podem ser confundidas com outras doenças, como herpes, por exemplo. Portanto, é importante procurar ajuda médica o mais rápido possível para realizar uma avaliação.

Existe tratamento?

Sim, o Behçet pode ser tratado com medicamentos que realizam um controle adequado da inflamação. 

Quais doenças o reumatologista trata?

Fibromialgia

É uma doença que causa dores no corpo generalizadas e está associada a enxaqueca, distúrbios do sono e do humor, alterações intestinais, entre outros.

Artrite reumatoide

É uma doença autoimune crônica que pode afetar diversas articulações, sendo as mãos, os pés e os punhos as regiões mais acometidas.

Osteoartrite

Também conhecida como artrose, essa doença é caracterizada pelo desgaste das cartilagens que recobrem as extremidades dos ossos. Ocorre principalmente nos joelhos, quadril e mãos.

Osteoporose

É uma doença em que osso torna-se mais frágil com maior risco para fraturas. Ocorre principalmente em mulheres após a menopausa, mas também pode ocorrer em homens e ter outras causas secundárias.

Gota

Essa doença é desencadeada pelo acúmulo de ácido úrico no organismo. Ele pode se depositar nas articulações causando uma inflamação local.

Lúpus

É uma doença autoimune crônica sistêmica que provoca alterações em diversas partes do corpo. Pode acometer a pele, as articulações, os pulmões, os rins, o sangue, entre outros.

Lombalgias

O reumatologista pode diferenciar uma lombalgia comum de uma dor nas costas causada pela espondilite anquilosante.

Tendinites

O tendão é uma estrutura fibrosa que liga o músculo ao osso. A sua inflamação é, geralmente, causada por movimentos repetitivos e traz dor e limitação física.

Essas doenças acima citadas são as mais comumente tratadas pelo reumatologista. Porém, existem centenas de outras doenças que também são cuidadas por essa especialidade, como:

  • Síndrome de Sjögren

  • Síndrome antifosfolípide

  • Esclerose sistêmica

  • Doença mista do tecido conectivo

  • Doença de Behçet

  • Artrite psoriásica

  • Espondilite anquilosante

  • Polimiosite e dermatomiosite

  • Sarcoidose

  • Febre reumática

  • Vasculites

  • Artrites pós-infecciosas

O médico disse que o diagnóstico é clínico. Mas o que isso significa?

Diversas doenças são diagnosticadas clinicamente. Isso significa que o médico pode dizer se você tem a doença ou não, apenas baseado nos sintomas e sinais que você apresenta. Não necessita de um exame complementar para fechar o diagnóstico.

Esse é o caso da fibromialgia. Para fazer o diagnóstico dessa doença, o médico pergunta as queixas do paciente e realiza o exame físico. Dessa forma, já é possível fazer o diagnóstico da doença, não é necessário exames de sangue ou radiografia. Os exames complementares solicitados na suspeita da fibromialgia são para excluir outras doenças. Os pacientes com fibromialgia por si só apresentam exames complementares normais. Ainda infelizmente, não existe nenhum marcador no sangue ou em imagem para esta doença.

Dessa forma, o diagnóstico da fibromialgia, assim como de diversas outras doenças, é clínico. Por isso, não estranhe se você tem fibro e seus exames complementares forem normais.

3 exercícios que você não sabia, mas são maravilhas para a saúde

      1. Natação

       Aumenta a resistência física, melhora a flexibilidade e tem pouco impacto. Costuma ser recomendada para quem tem espondilite anquilosante, desde que não haja contra-indicação.

      2. Tai chi

       É uma forma de exercício que une mente e corpo. Originária da China envolve artes marciais, meditação e movimentos suaves de dança que levam a conexão da mente e corpo. É indicada como terapia complementar para transtornos de ansiedade, fibromialgia e osteoartrose de joelhos.

      3. Exercícios Kegel

         São exercícios que fortalecem a musculatura pélvica que sustenta a bexiga. Podem prevenir a incontinência urinária. 

Consulte seu médico para avaliar se está apto a realizar exercícios físicos.

3 dicas para afastar os mosquitos e evitar doenças

1- Vacinação

Consulte seu médico para avaliar se você está liberado para receber a vacina contra a febre amarela, pois existem algumas restrições para paciente com doenças reumatológicas e imunossuprimidos. A vacina deve ser tomada pelo menos dez dias antes da viagem.

2- Repelentes

Os mais recomendados são os que contém DEET, na concentração entre 25 e 50% e os que contém Icaridina, na concentração de 20% a 25%, por terem maior duração de ação, necessitando reaplicação menos frequente e consequentemente favorecendo uma melhor adesão. Os repelentes a base de IR3535 também podem ser usados. Repelentes naturais não tem eficácia comprovada. Também podem ser usados em associação, os repelentes ambientais (sprays, pastilhas e líquidos em equipamentos elétricos), inclusive à noite.

3- Proteção extra

  • Proteger a maior extensão possível de pele por meio do uso de calça comprida, blusas de mangas compridas e sem decotes, de preferência largas, não coladas ao corpo, meias e sapatos fechados. O uso de roupas claras facilita a identificação de mosquitos e permite que eles sejam mortos antes de picarem o indivíduo.
  • Dormir sob mosquiteiros corretamente arrumados para não permitir a entrada de mosquitos (abas de abertura sobrepostas e barras inferiores embaixo do colchão); preferencialmente dormir debaixo de mosqueteiros impregnados com permetrina.